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Vinha - Aposta na selecção genética de castas

As Beiras (on-line) | 28-01-2007 | Geral, Inovação
Em Portugal, cada vez mais viticultores estão a recorrer à selecção genética das suas castas para aumentarem a qualidade e quantidade dos vinhos e tornar as videiras mais resistentes aos vírus.

Os viticultores da Região Demarcada do Douro estão a recorrer cada vez mais à selecção genética das suas castas para aumentarem a qualidade e quantidade dos seus vinhos e tornar as videiras mais resistentes aos vírus.

Em 1979 foi criada a Rede Nacional da Selecção da Videira, a partir de uma iniciativa do professor Antero Martins, do Instituto Superior de Agronomia, que contou com o apoio de Luís Carneiro, da Estação Agronómica Nacional, e de Nuno Magalhães, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Depois de 28 anos de investigação no melhoramento das videiras existem 50 castas em selecção.

“Na década de setenta não existia em Portugal uma selecção colonal das videiras, inclusive, nesta altura, a produção era muito baixa”, afirmou Nuno Magalhães à agência Lusa. Em Portugal a produção de vinho rondava os 30 hectolitros por ano, na França era de 70 e na Alemanha de 120 hectolitros.

O objectivo da investigação foi seleccionar, de cada casta, os clones mais resistentes aos vírus, com mais produção e mais qualidade, e determinar aqueles com mais açúcar ou mais tintos. Actualmente, a maior parte das grandes empresas produtoras de vinho já plantam as suas vinhas com material seleccionado.
A Real Companhia Velha (RCV), com quatro quintas instaladas em plena Região Demarcada do Douro, fez a primeira plantação com videiras seleccionadas há 10 anos. Segundo um dos engenheiros da RCV, Rui Soares, actualmente a empresa possui 50 hectares de vinha, de um total de 500, plantados com material seleccionado. “E nas próximas plantações vamos privilegiar a selecção colonal”, afirmou.
“Estamos a utilizar material que oferece garantias quanto à despistagem de vírus, mais qualidade e mais produção”, salientou Rui Soares, considerando que a utilização de melhores castas equivale a uma produção de melhores uvas e, consequentemente, de melhores vinhos.

A Sogrape-Vinhos começou a plantar videiras seleccionadas em 1988 e, actualmente, nos cerca de 500 hectares de vinha que possui no Douro, a empresa tem cerca de 100 hectares com estas castas, das quais se destacam a Touriga Nacional, a Touriga Franca, a Tinta Barroca, a Tinta Roriz ou o Tinto Cão.
Um dos maiores sucessos da selecção colonal foi, segundo Nuno Magalhães, a Touriga Nacional que estava quase extinta e agora foi reposta nas vinhas. “Até já foi plantada em vinhas na Argentina, África do Sul e Austrália”, disse.

Nuno Magalhães considera que, no início do projecto, houve uma grande dinamização em Portugal e que o projecto foi alargado a mais castas e mais regiões. “Foi um trabalho conjunto de muitos técnicos e organismos, que contou com o apoio essencial dos viticultores privados, que deixaram recolher nas suas vinhas os pés mãe e, depois, instalá-los em campos de experimentação”, salientou.

Para o responsável, com este projecto “foi possível recuperar as castas e tornar a produção mais regular e com mais qualidade”, faltando, agora, “institucionalizar todo o trabalho”. A solução poderia passar pela criação de uma associação que “tome em mãos o projecto de selecção colonal das castas”, defendeu.

Balanço “é muito positivo”

Das 320 castas portuguesas, 50 estão neste momento em selecção. Rui Soares considera que ainda existe falta de divulgação da selecção colonal da videira e, ao contrário do que grande parte dos pequenos e médios viticultores pensa, o preço de um enxerto pronto de material seleccionado é equivalente ao de um enxerto pronto de material convencional. Os enxertos prontos plantados nas vinhas são provenientes directamente da rede nacional de selecção ou dos viveiristas. “Ainda há muito desconhecimento”, salientou o engenheiro, admitindo, no entanto, que o balanço do material seleccionado “é muito positivo”.

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