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Portugueses desenvolvem pesticida revolucionário

TSF | 21-06-2007 | Geral, Inovação, Outros
É um pesticida revolucionário: mata inúmeros tipos de fungos que afectam as culturas mas não tem qualquer efeito secundário para as pessoas ou o meio ambiente.

O produto, desenvolvido por investigadores portugueses ao longo de 16 anos, vai começar a ser vendido no mercado internacional. O pesticida é extraído do tremoço.

Os três principais investigadores do processo - que se prolongou por 16 anos e envolveu «inúmeras pessoas» - explicaram à agência Lusa a «revolução» que representa esta descoberta para a agricultura, nomeadamente para as vinhas.

«Trata-se de uma mudança de paradigma, pois os pesticidas actualmente utilizados matam as pragas e as doenças, mas contaminam o ambiente e são tóxicos para os animais e para o homem. Ao contrário, este produto mantém a vantagem de acabar com as doenças, sem causar danos no ambiente ou nas pessoas», resumiu Virgílio Loureiro.

A divulgação e futura comercialização deste produto inovador resultou de um processo raro de ligação da investigação universitária às empresas ou investidores, que foi feita através de um programa da COTEC, como fazem questão de realçar os investigadores.

O processo culminou na formação de uma empresa participada por estes professores e por um consórcio com uma capital de risco do BPI - Sonae e empresários portugueses.

O novo produto é extraído do tremoço germinado, uma fase que não ultrapassa uma semana, «pode ser ingerido pelo homem e é destruído somente no estômago» e já está patenteado, tanto a nível nacional, como internacional.

Pesticida resistente que combate inúmeros fungos

As vantagens que apresenta face aos seus concorrentes no mercado passam pelo facto de não ser tóxico ou prejudicial ao ambiente e ao homem, mas também por ser muito resistente e eficaz na luta contra inúmeros fungos, ao contrários dos produtos actualmente usados pelos agricultores que têm funções específicas, ou seja, cada um afecta um número reduzido de doenças das culturas.

Entre as doenças que combate estão o oídio, a podridão cinzenta, a antracnose ou a escoriose, estando em estudo o efeito no míldio, disse Virgílio Loureiro.

Como pode ser ingerido pelo homem, evita o cumprimento do intervalo de segurança exigido por lei aos agricultores que usam pesticidas químicos, ou seja, os produtos agrícolas podem ser tratados e de seguida entrar no circuito comercial.

Além de ser utilizado como forma de destruir as doenças que afectam as culturas, a vertente que estará a ser comercializada dentro de dois anos, a proteína do tremoço, que tomou o nome de BLAD (Banda de Lupinus Alpus Doce) pode vir a ter outras aplicações como ser introduzido em outra planta de modo a conferir-lhe mais resistência a fungos.

Como fungicida, pulverizado nas plantas doentes, o BLAD pode ser utilizado na agricultura a céu aberto, nos relvados desportivos - como no golfe ou nos campos de futebol -; nas culturas em estufa, onde o ambiente muito húmido e com altas temperaturas é propício à proliferação de fungos; e na agricultura biológica, área onde «a falta de armas contra os fungos é o principal obstáculo ao desenvolvimento» da actividade.

Virgílio Loureiro, Ricardo Boavida Ferreira e Sara Monteiro foram os principais investigadores, a que se juntou Artur Ricardo Teixeira, entretanto reformado, num grupo de profissionais «difícil de contabilizar» do Instituto Superior de Agronomia (ISA), da Universidade Técnica, e do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQ), da Universidade Nova de Lisboa.

Ricardo Ferreira fez questão de dizer que o processo de investigação à volta do BLAD ainda não está terminado e que «não está definida a lista de doenças em que é eficaz, nem o conjunto de culturas em que pode ser usado».

Primeiras exportações destinadas aos EUA

Nos próximos dois anos serão investidos 12,5 milhões de euros na instalação de uma fábrica que vai produzir o fungicida, estando já a iniciar-se uma unidade piloto.

As primeiras quantidades produzidas deverão destinar-se aos EUA, onde a homologação de novos produtos é mais rápida que na Europa e, neste momento, «as maiores empresas de vinhos norte-americanas já estão disponíveis para fazer ensaios de campo» do novo produtos, refere Virgílio Loureiro.

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