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Sogrape, A empresa portuguesa do vinho global

Silvia Camarinha | Jornal de Notícias | 05-05-2014 | Geral, Artigos
Vamos a factos: esta é a maior empresa portuguesa de vinho, a mais diversificada em marcas e a mais internacional. Se hoje Fernando Van Zeller Guedes, o criador da Sogrape, estivesse vivo, ficaria surpreendido? Diga-nos você.
"O sonho era criar um vinho português para o mundo", revela Fernando Cunha Guedes, ao recordar o nascimento do Mateus Rosé pelas mãos do avô. Mas os sonhos transformam-se e hoje a Sogrape quer afirmar-se como a mais importante empresa vitivinícola portuguesa do mundo. Objetivos diferentes, mas indissociáveis e já lhe explicamos porquê.

Quando em 1942 Fernando Van Zeller Guedes decide criar um vinho fresco e leve, com uma cor incomum, sabia (diríamos até que de forma algo vanguardista para a época) que o sucesso da Sogrape dependia da exportação. A Europa estava em plena Segunda Guerra Mundial e apesar de muitas cidades do continente "afogarem mágoas" em festas e álcool, nunca poderiam ser os alicerces de uma empresa que se pretendia sustentável. O Mateus Rosé atravessa, então, o Atlântico, rumo ao Brasil, onde se torna um sucesso de vendas. E o resto da "viagem" é... a História do vinho nacional: 120 mercados conquistados em 70 anos e o título de marca de vinho português mais vendida e admirada do mundo. Ainda recentemente a prestigiada publicação Drinks International colocou-a entre as 50 marcas de vinho mais apreciadas no mundo. É a única portuguesa a constar da lista.

Há, por isso, uma sensação de dever cumprido na terceira geração da Sogrape. Mas acima de tudo há um sentimento de gratidão. Sem o Mateus Rosé não haveria "experiência nem capacidade financeira para começar a fazer coisas diferentes". Ou seja, para criar o "império" Sogrape.

Diversificar, diversificar ou... diversificar

Em 1957, a família investe pela primeira vez em vinhos diferentes do Mateus. A região demarcada do Dão (na altura ainda em projeto) é a primeira eleita de um processo a que a Sogrape viria a chamar a 2ªfase: deter várias marcas de vinho em Portugal. Nos anos que se seguiram, não houve região, gama ou casta que a empresa não conquistasse. Ressuscita os vinhos verdes, com o Gazela, "inovador e refrescante na apresentação com aquele rótulo transparente", instala-se na Bairrada, adquire vinhas e quintas no Alentejo e chega ao néctar do Douro: o vinho do Porto. Com a aquisição da A.A. Ferreira SA, a Sogrape passa a liderar o mercado dos generosos e a deter aquele que é considerado o melhor vinho português, o Barca Velha. "Oferecer um portefólio ainda mais diversificado" era o foco. Mas para isso Portugal não bastava.

Em 1997, "voltando às origens e sendo ainda mais ousados", a Sogrape investe na Argentina. Mais tarde chega ao Chile e à Nova Zelândia. "Lá fora havia uma categoria de vinhos a crescer muito, os vinhos de novo mundo, produzidos a partir de uma só casta", explica Fernando Cunha Guedes. Além disso, os mercados internacionais estavam entusiasmados com castas como o "cabernet sauvignon" e a Sogrape decidiu cultivar onde estas castas se faziam melhor. Foi um momento decisivo. Primeiro, porque a diversidade de produtos trouxe à empresa "massa crítica e vantagem competitiva". Nos Estados Unidos, (maior mercado de vinhos do mundo) há uma grande apetência por vinhos da América do Sul.

Em segundo lugar, porque foi aí que a Sogrape deixou de ser a empresa do vinho português, para ser a maior empresa de vinho feito por portugueses. Em 2012 consolida essa posição com a compra da Bodegas Lan, em Espanha.

A notoriedade do vinho português

Em 2014, a Sogrape está em plena 4ª fase de crescimento, controlando a distribuição das suas marcas nas mais diversas geografias: Angola, Hong Kong, Europa de Leste, Estados Unidos e novamente Brasil, onde o consumo per capita de vinho é de apenas dois litros.

"Estar perto" traz resultados: as vendas cresceram 12,5% na Ásia do Pacífico, Brasil e Angola e 9,4% nos Estados Unidos. Em Portugal, onde o consumo de vinho passou de 100 litros para 40 litros per capita nas últimas décadas, ainda conseguiu aumentar as vendas em 2,4% em 2013. No mesmo ano, Espanha passou a ser o 3º maior mercado da empresa (12% das vendas).

E, sendo realistas, no mercado internacional, além de Vinho do Porto (com a Sandeman no topo) e do vinho Mateus Rosé poucos conhecem ainda os grandes vinhos portugueses. "Falta-nos notoriedade e dimensão internacional. Mas acreditamos que o momento de Portugal vai chegar". Ou talvez já esteja aí à porta. Em 2013, as exportações de vinho português aumentaram 4% e críticos americanos como Matt Kramer (Wine Spectator) e Ray Isle (editor executivo da CNN) consideram que o mundo está a perder "o vinho mais excitante" dos últimos tempos.

Quem tem medo da quarta geração?

O que têm em comum Jimmy Hendrix, Elton John e a Rainha de Inglaterra? Mateus Rosé, pois claro. Todos foram "cara" do vinho português, em campanhas de publicidade de sucesso.

"Foi a inovação que nos trouxe até aqui". Fernando Cunha Guedes recorda a hábil estratégia com que o avô divulgou pela primeira vez o Mateus Rosé. Embalou duas garrafas e enviou-as a todos os embaixadores do mundo com um bilhete que dizia "muito agradecia que provasse e se gostar mande a segunda garrafa a quem achar mais conveniente". Funcionou. A forma da garrafa de Mateus, "pequena, bojuda e gorda" também foi uma jogada de génio de Fernando Van Zeller Guedes, porque obrigava-a a ser colocada à frente das outras nas prateleiras. Além de vitivinicultor, Van Zeller Guedes era um bom marketeer. Os filhos e netos têm tentando seguir-lhe os passos. A bisneta (a primeira da 4ª geração a trabalhar na empresa) entrou há pouco para a equipa de marketing. "A maior parte das empresas não sobrevive à 3ª geração. Nós já passámos essa marca".

Ainda há espaço para inovar?

Os vinhos do Velho Mundo sempre se fizeram misturando castas do mesmo país. Mas qual o resultado da mistura de castas nacionais e estrangeiras? A resposta é dada pela Sogrape num vinho recente da gama Mateus.

Mais recentemente, a empresa lançou também um Gazela com baixo teor alcoólico (5.5º), seguindo as tendências que apontam a saúde como uma preocupação crescente entre os consumidores.

Cada produto novo é criado a pensar num mercado específico.

Números

a) O Mateus Rosé continua, desde há 70 anos, a ser a marca topo de vendas da Sogrape. Representa 15% do total.

b) Em 2013 ultrapassou a barreira dos 200 milhões de euros de volume de negócios (202Meuro)

Da vinha ao copo


Tem 1500 hectares de vinha. 830 ha são em Portugal.

Em 2013 produziu mais de 10 mil toneladas de uvas.

Produz mais de 77 milhões de garrafas.

Vende em 120 países.

Tem 1000 colaboradores.

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