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A promoção e defesa do vinho português
O Primeiro de Janeiro | 30-04-2008

Têm como objectivo comum a promoção, defesa e divulgação do vinho português, a nível nacional e no exterior. Um município que deu origem a uma associação e uma associação que nasceu pela força e união dos vários municípios. Paulo Caldas faz a análise, numa conversa animada e descontraída mas responsável, à sua presidência.

Nasceram para dar voz, forma e com um objectivo expecífico, defenderem e promover o vinho de Portugal, associaram-se para poderem mostrar que os municípios estão unidos e actuam isoladamente, cada um a remar para o mesmo lado mas em conjunto, na mesma direcção com um olhar sobre o mundo e não para o umbigo. “Um núcleo muito coeso de municípios à sua volta, da associação de várias regiões do país, de norte a sul e consegiu apanhar as diferentes regiões vinícolas, chamemos-lhe assim, até porque como sabemos Portugal é um país onde o vinho é um produto estratégico, é um ex-libris. Conseguimos, de facto, dar rapidamente as mãos e trabalhar em conjunto, por isso o tempo de consolidação do projecto não demorou mais de três meses, até se formalizar e que desse os primeiros passos, isso cobrindo municípios tão distintos e distantes quanto Lamego à Vidigueira, Reguengos, a Borba, Arruda do Vinhos, Palmela, ou Cartaxo, entre outros que imediatamente fortaleceram e acabaram por consolidar as suas actividades e as experiências já feitas nesta área. A partir dai traçámos um rumo comum e a associação nasceu”, desenvolve Paulo Caldas, presidente da Câmara Municipal de Cartaxo e da Associação de Municípios Portugueses do Vinho, que introduz, como nota de satisfação, “felizmente, cada vez mais, o vinho português é um vinho de maior qualidade e com marketing, com uma promoção própria, os próprios rótulos das garrafas, o cuidado na colocação do vinho no mercado é cada vez mais cuidada e mais profissional e ainda bem que assim é. Eu diria que desde o mercado, ao consumo e ao tratamento da vinha, estamos cada vez com mais qualidade no sector e isso é positivo”.

”Cartaxo Capital do Vinho”

Uma ideia lançada em 2002 que nasceu de uma identidade natural, reconhecida em Portugal e no estrangeiro, do município do Cartaxo, “ainda me recordo que quando estive a estudar na Holanda e me identificava como sendo do Cartaxo, a primeira associação que faziam era ao vinho. Como dizia António Silva, “vamos a águas para o Cartaxo”, ou Almeida Garrett, “o nobre produto que vem da terra”, há uma associação quase que involuntária de ligar o vinho ao Cartaxo e o Cartaxo ao vinho”. Desta ligação ancestral foi-se criando um conceito que não pretende ter uma dimensão de superioridade, em relacção a outros municípios vinícolas, “temos a noção que o país quase inteiro pode vangloriar-se e orgulhar-se de ser uma capital do vinho”, mas numa perspectiva de valorização territorial e de identidade.

Uma capital com festivais próprios, a nível regional a Festa do Vinho, que celebra 20 anos, com as suas oito freguesias, a sua gastronomia, colectividades culturais e recreativas, e o Festival Nacional do Vinho. “Acabamos por valorizar uma marca e o marketing territorial que não vamos abandonar, como é óbvio, porque queremos que haja uma valorização produtiva e económica de um produto que hoje sentimos que é um vinho com cada vez mais qualidade. Queremos que o vinho do Ribatejo tenha mais presença nos mercados e, ao mesmo tempo, sentimos que é um objecto de afirmação, por isso, é com bastante orgulho que a autarquia lançou este caminho que é positivo na valorização das nossas gentes e da nossa tradição na evolução”, esclarece Paulo Caldas.
Esta evolução passa por valorizar o mundo rural, a vinha e o vinho, com rotundas temáticas para que quem visite o Cartaxo o reconheça pelas suas especificidades, “quem entra na nossa terra sente automaticamente que está numa terra de vinho, vinha e ruralidade pois penso, honestamente, que o Cartaxo vai ser essa expressão de ligação do Tejo, do campo, ao bairro, de ligação entre o mundo rural ao urbano, pois vai conquistando a sua urbanidade. Infelizmente as coisas têm tendido para aí com o reforço das acessibilidades, do emprego, de áreas empresariais, com toda esta evolução, mas que, ao mesmo tempo, não vai deixar a sua tradição por mãos alheias”, explica o edil.

Avaliação AMPV

Para Paulo Caldas, o ano que passou é tradutor de um sentimento de orgulho, pois a união faz a força e essa experiência de unidade com todos os autarcas reunidos na mesma causa é de salutar, “vamos realizando a nossa actividade, múltipla, diversa, distinta, com as nossas identidades próprias e tradutoras de que, de facto, quando queremos conseguimos trabalhar em conjunto e explorar um objectivo comum. Isto é um bom exemplo para o país e um bom sinal de que não só as autarquias trabalham bem, e isso é um ponto importante junto da Administração Central, porque muitas vezes há a tendência para que se sintam como aqueles que acabam por ter princípios demasiado individualistas e não trabalham em conjunto. Este é assim um bom exemplo, que quando acreditamos num objectivo comum, neste caso, a promoção de um produto estratégico e sector vital para o país sentimos que estamos a percorrer um caminho positivo, para em conjunto com outras entidades darmos o nosso contributo”, salienta o autarca presidente.

Atentos à realidade actual e à possibilidade de “desbravar” dez a 12 mil hectares de vinha em Portugal, nos próximos anos, a Associação de Municípios Portugueses do Vinho está preocupada. “Estamos atentos e é um facto que há uma preocupação por parte dos municípios com essas novas regras que vão permitir a compensação penso que de cerca de seis ou sete mil euros por hectar para arranque da vinha, há que compreender que isso tem haver com o ordenamento do território. Daqui a cinco ou dez anos arriscamo-nos a ter um país menos rural, mais desordenado porque não havendo vinha nas configurações dos PDM’S as autarquias alteram e vai tender para a urbanização, para o crescimento urbanístico e muitas vezes disperso o que não é positivo. Em termos de infra-estruturas compete aos municípios uma análise atenta e ponderada do que é que se passa a esse nível, porque também é numa visão de futuro que queremos construir a nossa actividade. Estamos atentos e, naturalmente, que vamos pontuando de um outro exemplo na negociação ministerial”.

Estes, e outros, assuntos são discutidos com o Ministério da Agricultura que se tem mostrado um parceiro válido, receptivo e atento às preocupações da associação com uma atitude digna que responde sempre solícito às reuniões e multiplas solicitações da AMPV. “Há um acordo que permite vantagens para ambas as partes e eu acredito que tanto o Ministério da Agricultura, como a ViniPortugal e a AICEP, a quem compete colocar os vinhos no exterior, e com todas as entidades ligadas ao sector vitivínicula são válidas e estão unidas nos mesmos interesses, pois tentamos sempre desenvolver parcerias na medida das múltiplas actividades que vamos desenvolvendo e tentando encontrar pontos de valorização comum. Tem havido a preocupação de, pela qualidade, nos associarmos às actividades das diferentes entidades do sector, aos produtores, às casas agrícolas para, a par e passo, irmos valorizando o vinho na sua análise multi-dimensional: a cultura, o desporto, a educação, história e património e é nisso que nos vamos concentrar. Estamos abertos a todo o tipo de parcerias, não só na exigência mas naquilo que passa pela reivindicação junto do Governo ou entidades comerciais de determinadas realidades e perspectivas mas também defendendo com isso os produtores e quem está no sector, mas dando as mãos em actividades de enriquecimento e que possam promover o vinho.

Chamo atenção para o seguinte: o ano passado, assistimos a uma divulgação da Feira Mundial do Vinho e estivemos com a ViniPortugal e com a AICEP e achamos muito valorizada a participação dos vinhos portugueses, percebi que em dimensão éramos o quarto expositor e tínhamos muita qualidade na nossa apresentação. O facto de estarmos presentes e termos dado o contributo, como associação, com essas duas entidades, entendo que foi uma parceria excelente”, conclui orgulhoso Paulo Caldas.

Assembleia-Geral da RECEVIN

Um grande passo para a Associação de Municípios Portugueses do Vinho é a realização da assembleia-geral da Rede Europeia das Cidades do Vinho (RECEVIN), pois a experiência desta associação e de outras do sector, como dos vizinhos espanhóis, a Rede de Municípios Espanhóis do Vinho (ACEVIN), são sempre mais-valias para a AMPV uma vez que esta congrega no seu seio a defesa, promoção e divulgação do vinho, espanhóis, franceses, ingleses, italianos, gregos, italianos e alemães, homens e mulheres, municípios e produtores de vinho. “É uma horna para nós sermos os anfitriões desta assembleia, recebermos o momento mais nobre do seu meeting, o seu evento principal e também temos muito orgulho na realização do 1º Congresso Ibérico dos Museus do Vinho. Estes encontros servirão também para realizarmos uma auto-avaliação do trabalho que realizamos, porque apesar de ser uma associação muito jovem é útil e tradutora dessa dinâmica, sentimo-nos muito felizes por este ano que passou e encontramos um elixir de motivação nesta comemoração do 1º aniversário”.

O futuro da AMPV e do vinho

Um dos projectos de futuro é a valorização da venda do vinho, na área da restauração, a copo, como acontece com a cerveja, por exemplo, os vulgares finos ou imperiais, uma ideia difundida em outros países Europeus e que é considerado um avanço cultural e meio de prevenção de acidentes, afirma Paulo Caldas. “Tal como se concebia o vinho nas tabernas, mas de uma forma mais qualificada, com vinho engarrafado, penso que a prática e a cultura do vinho a copo era um eixo importante de divulgação, difusão e valorização no nosso país. Todo ganhávamos com isso, pois, muitas vezes substituindo o vinho por uma outra bebida branca, o grau de alcóol diminui, e contribuimos para uma menor sinistralidade, por outro lado, é uma bebida agradável para um convívio, para um encontro profissional. Em vez de se beber uma cerveja quando saímos do trabalho porque não beber um copo de vinho, no Verão privilegiado o branco porque é mais fresco, mas eu acho que a prática do vinho a copo traria e traz ao nosso país, que tem um vinho como noutros produtos regionais e no turismo um dos expoentes estratégicos em termos de valorização. Devia-se de facto apostar numa promoção, a desenvolver por várias entidades do sector, que nós apadrinharíamos com muita facilidade e contribuiríamos dentro dos possíveis; não é um projecto original mas parece importante valorizar, consciencializar e difundir pela prática das nossas diferentes comunidades”, desenvolve o autarca uma ideia considerada de simples mas muito importante para atingir alguns dos objectivos que a AMPV se propõe.

Outra das preocupações e objecto de análise actual e futura é o preço que o vinho chega ao consumidor, excessivo na área da restauração para agregados da classe baixa com valores que o tornam inacessível, “consumir um vinho de qualidade ou até de qualidade mediana, porque muitas vezes encontramos uma garrafa de vinho a 15, 20 ou 25 euros e isso é o preço de uma refeição, paga-se tanto pelo vinho como pela refeição. É algo que pode mudar e o caminho tem de ser de equilíbrio e de redução desse preço excessivo e ao qual o vinho chega ao consumidor. É verdade que quem o produz e coloca no mercado já o faz a preços elevados, mas o distribuidor agrava e o empresário da restauração ou hotelaria ainda mais”, informa preocupado garantindo que o trabalho da associação passa por tentar, com a entidades competentes, arranjar uma solução. “O nosso trabalho conjunto tem de ser de consciencialização, na prática e no consumo de um bom vinho, de qualidade, e pela intervenção do vinho português dentro e fora de portas. Intervenção e mudança nas grandes alterações que existem no sector, nomeadamente agora na constituição das novas entidades de certificação, sempre privilegiando a qualidade mas alertando sempre as entidades competentes”.

Como objectivo final para o futuro, a curto e longo prazo, desejam crescer com dimensão, mais associados, mas com qualidade, com poucas mas boas actividades, e trilhar esse caminho de promoção e divulgação do vinho português em Portugal e no estrangeiro.

Uma mensagem de confiança

Agradecer a colaboração de todos os envolvidos, de Norte a Sul do país, na difusão e promoção do vinho português, é o que pretende Paulo Caldas com uma mensagem final de confiança no futuro. “Este é um trabalho que não se perde e que as próximas gerações certamente terão a possibilidade de fazer a sua avaliação e dar continuidade, de sentirem orgulho, de dar valor e fazer coisas diferentes, porque é sempre possível fazer coisas diferentes em torno de alguma coisa. Parece-me que estamos a trilhar um bom caminho, bom para nós, para as nossas autarquias, para as regiões e para o país, pois acho que ganhamos muito com isso, cada vez mais temos que apostar certo, e o país não pode perder muito tempo a fazer estudos e depois voltar atrás. O caminho certo é este, no qual acreditamos e estamos convictos, corrigir trajectórias quando vemos que erramos, mas acho que este é um caminho certo que deve ser prosseguido”, conclui o presidente da Câmara Municipal de Cartaxo e da Associação de Municípios Portugueses do Vinho
 
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