JM — E isso tem incentivado o aparecimento de mais produtores?
PR — De longe! Este ano é histórico. Nunca tal aconteceu. A Região tem, desde a década de 80, um conjunto de programas de reestruturação e reconversão de vinhas. Conseguimos, durante quase duas décadas, reconverter cerca de 250 hectares. Este ano, para o pacote de 20 hectares que a Região tem para um ano só, temos pedidos já com overbooking. Há dois anos tivemos 10, também com overbooking. Portanto, o sector está a passar por um período muito positivo. Ainda há dias, na RTP/M, deu-me imenso prazer ouvir o engenheiro Duarte Caldeira dizer que é das poucas culturas rentáveis que a Região tem. E é! Eu, como presidente desta casa, digo que é um sector atractivo. Com um pacote de apoios como nenhum outro tem, que permite ter o prazer que é trabalhar no vinho e, ao mesmo tempo, podermos pensar em ganhar dinheiro com isso. Se eu não fosse presidente do Instituto, era viticultor.
JM — O que dá grau ao vinho é o açúcar. Como é que ele se forma? Só por curiosidade.
PR — É através do sol. A planta, através das folhas, transforma os nutrientes que tira da terra, junta-lhe a luz solar, há reacções bioquímicas e formam-se muitos compostos, entre os quais, o açúcar. É o verde das folhas que faz isto. Depois, qual é o objectivo da planta? É garantir que a geração seguinte seja o mais viável possível. E isso é feito concentrando toda a sua energia nos frutos. Pega no açúcar, mete nos frutos e mete nas suas reservas pessoais, no tronco, para o ano seguinte. Quanto mais folhas saudáveis e mais sol tem, mais açúcar produz. Se tiver falta de água também não funciona. Se tiver falta de nutrientes, também não. É a conjugação destes elementos.
JM — E isso pode ser controlado pelo produtor?
PR — Claro! Menos a luz.
JM — Portanto, se faltar a luz solar, o vinho tem menos açúcar?
PR — Não. O vinho tem que ter sempre açúcar. Pode é levar mais tempo a acumular. Aí, o factor tempo é importante. Por exemplo, numa região muito seca, como em Canárias, na Ilha de Lanzarote, é perfeitamente normal a vindima começar no final de Julho. Porque é seco e quente e tem muita luz. Aqui, não. Temos menos luz, é menos quente, tem mais humidade, as plantas levam mais tempo a conseguir acumular esse açúcar. |