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Vinhos o Senhor da Quinta
Helena Cristina Coelho | Revista Dia D (Público) | 24-11-2006

Miguel Champalimaud escolhe uma garrafa de vinho Paço de Teixeiró e prepara-se para abri-la. Mas o ritual, desta vez, é rápido e inesperado.

Não se arranca a cápsula de plástico do gargalo, nem se enterra a espiral do saca-rolhas na cortiça nem se puxa a rolha até se ouvir o famoso "plop". Desta vez, Miguel Champalimaud limitou-se a apertar o gargalo da garrafa, rodar o pulso e desenroscar uma cápsula de alumínio que tira e volta a enroscar. "Há método mais simples do que este?", questiona Miguel Champalimaud.
Para o produtor de vinhos durienses de prestígio como Quinta do Côtto e Paço do Teixeiró, esta é a sua nova aposta: cápsulas de alumínio - as polémicas screwcaps -, para engarrafar toda a produção vinícola da casa Montez Champalimaud. Este ano, os vedantes artificiais já estarão em todas as garrafas de vinhos tinto, branco e rosé, uma solução que Miguel Champalimaud apelida de "inovadora e corajosa". E nem mesmo o coro de críticas que lhe dirigem o faz desistir. E apresenta os seus argumentos, "a técnica do vedante é a melhor solução. O screwcap traz uma grande simplicidade que vai marcar o século XXI".

A decisão tomada pela casa Montez Champalimaud deixou a indústria corticeira à beira de um ataque de nervos. Se o produtor de alguns dos vinhos portugueses mais prestigiados, mesmo fora do país, prescinde da tradicional rolha de cortiça, nada garante que outros produtores não sigam o exemplo. E é isso que a indústria corticeira mais teme.

Os argumentos dos corticeiros, porém, não comovem Miguel Champalimaud. O produtor queixa-se do aumento continuado dos preços das rolhas e adianta que a cápsula de alumínio, para além da simplicidade, garante maior qualidade do vinho do que a cortiça (vd. entrevista). O factor económico, embora não seja reconhecido por Miguel Champalimaud como o principal factor, pesa significativamente nas contas. Basta ver que cada rolha de cortiça custa, em média, entre 25 e 50 cêntimos - uma rolha de qualidade pode custar um euro. Já uma cápsula de alumínio tem um custo bastante mais baixo: entre 20 e 25 cêntimos a unidade. Ora, quando se produzem 350 mil garrafas, como a Montez Champalimaud em 2005, isso pode representar uma poupança de largos milhares de euros. Depois de uma pré-selecção de quatro fabricantes europeus de screwcaps, a Montez Champalimaud acabou por escolher um único fornecedor italiano.

Entre o Douro e Cascais

O abandono da rolha de cortiça em prol do screwcap não é apenas uma decisão revolucionária na centenária produtora de vinhos. É também um marco na gestão de Miguel Champalimaud que já leva 30 anos à frente dos destinos do negócio de família (vd. caixa). Nascido no Lobito, em Angola, onde o seu pai tinha uma fábrica de cimentos, Miguel Champalimaud deixou África com apenas um ano de idade, estudou, seguiu a tropa e estava na Guiné quando se deu o 25 de Abril. Regressou no fim de 1974 a Lisboa para, passados dois anos, assumir então a liderança dos negócios da família.

É na Quinta da Marinha, em Cascais, outra das propriedades familiares, que hoje gere o dia-a-dia das empresas. À Quinta do Côtto, no Douro, onde se concentram as áreas de produção e comercialização, vai pelo menos uma vez por mês, tendo a seu cargo uma equipa de 22 pessoas. O resto do tempo passa-o entre Cascais e as inúmeras viagens para promover o portfólio de vinhos e fazer contactos comerciais. Uma das últimas viagens levou-o de volta a Angola, para uma promoção de vinhos em Luanda.

Os principais destinos externos "são europeus. Depois há o Brasil, Canadá, Macau, e estamos a tentar abrir o mercado", diz. No total, as exportações já representam 30 por cento das vendas da Montez Champalimaud. Entrar em mercados fora da Europa, contudo, é uma batalha difícil. As principais dificuldades, explica Miguel Champalimaud, foram criadas pela queda do dólar face ao euro. Com isso "os vinhos deixam de ser competitivos fora do mercado europeu". Mesmo assim, insiste em crescer fora de portas, até porque "o mercado português é pequeno, reconhece". Depois da produção de 350 mil garrafas em 2005, a fasquia mantém-se alta para este ano: "o objectivo é ter 500 mil garrafas por ano e consolidar", revela.

Entre os vinhos e as viagens, Miguel Champalimaud ainda divide o seu tempo com a gestão do imobiliário, turismo, golfe e restaurante da Quinta da Marinha. Entre os projectos em marcha, destaca-se a construção de um novo hotel de cinco estrelas e capacidade para 144 quartos, que deverá estar concluído em 2009. O investimento previsto cifra-se nos 40 milhões de euros e "terá a modernidade como ponto forte", defende Miguel Champalimaud. "Este hotel terá o mesmo efeito do screwcap", diz sem modéstias. Até porque, reconhece, "eu sou um modernista".

QUINTA DO CÔTTO | PAÇO DE TEIXEIRÓ
HISTÓRIA DE DUAS QUINTAS

Quinta do Côtto e Paço de Teixeiró são dois nomes de peso na galeria dos vinhos portugueses de prestígio. A primeira, com 50 hectares de vinha situada no coração do mais antigo e tradicional sector de produção de vinho do Douro, centrou a sua produção durante séculos no vinho do Porto. Atacadas pela filoxera, as vinhas e adega foram alvo de um programa de modernização a partir de 1932. Este projecto continuou depois de 1956, tendo em especial atenção a produção de vinhos do Douro, tintos e brancos, e Porto vintage, a partir de castas tradicionais. O objectivo foi alcançado com sucesso já sob a direcção de Miguel Champalimaud que, a partir de 1976, tomou a seu cargo a produção dos vinhos da Quinta do Côtto e se tornou responsável pelo desenvolvimento do conceito de Vinhos de Quinta (é um vinho que, para além de ser produzido e engarrafado num terroir específico - a quinta -, foi produzido e seleccionado pelo seu proprietário). O Paço de Teixeiró, na região demarcada do Vinho Verde, também teve as vinhas destruídas pela filoxera no período entre 1880 e 1885, como aconteceu em quase toda a Europa. A partir de 1978 cerca de 12 hectares de vinhas foram replantados. O primeiro vinho lançado no mercado foi o Paço de Teixeiró 1985
 
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2 comentário(s). Pág. 1|1 1  
2009-01-06 15:23:00
Um grande Português!
Utilizador: José Espinhosa
 
Este comentário é ridiculo e só revela que ninguem conhece este homem! Tomara Portugal ter imensos Miguels Champallimauds!!! Foi meu patrão era exigente e o maior guardião do que é Português! Recordo um serviço que me mandou reunir os empregados e cumprimentou um a um dando-nos os parabens pelo ''nosso sucesso''.Poucos o fariam! Por mim devo dizer que este homem foi o Português mais Lusitano que conheci! Uma vez comentando o preço dos nossos pratos ele disse ''porque raio deve um empregado do Armani ganhar milhoes por um vestido e os meus funcionarios tostoes por fazerem grandes vinhos e voce chefe com os seus cozinheiros uma comida tão boa!!!?? Não são vocês uns artistas tambem?!! Dizia tambem que nao lhe interessa-va estrangeirices quando nos tinhamos do melhor que existe no mundo... A este grande Português o meu bem haja e que apareçam mais destes!
 
2008-10-23 18:21:00
Ridídulo
Utilizador: Pedro Saavedra
 
É totalmente ridículo que este produtor passe a usar este tipo de vedantes nos seus vinhos em Portugal, acho mesmo que não passa de uma tentativa de marketing... falhada. Ja tive oportunidade de ver uma dessas garrafas no Jumbo, estava desenroscada. Conceteza algum patriota a desenroscou. Acho bem. Se não gostarmos de nós quem gostará... Viva Portugal
 
 
 
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